junho 21, 2012

Fêmea delta


Música para acompanhar: The Ballad of Monalisa - Panic! At the Disco



Sinto muito, mas não sou a mulher que você espera. Desculpe decepcionar-te.
Nada tenho a te oferecer de habitual numa conversa macho/fêmea. Nada de voz sedutora, de jogos corporais, de flertes. Nenhum papo fingidamente desinteressado, travestido de conversa casual. Sem etilismo.
Aqui você não vai encontrar aquela conquista fácil, resultante de joguinhos de sedução baratos, que se pratica em noites de tédio.
Não. Não aqui.

Nada disso posso te oferecer. O máximo que consegue extrair de mim será minha timidez. Constante e indisfarçável.
Sou boba e fácil de seduzir, confesso. Mas não tenho receita. De repente: gostei ou não gostei! Não há regras ou manual de instruções.
Também não adianta discorrer elogios, porque não acredito neles. Não sou bonita, estou fora de forma e tenho chulé se fico muito tempo com sapato fechado sem meia. Eu não atraio visualmente, então, o máximo que vou poder te dar em retorno pelos galanteios é meu sorriso amarelo.
Ser seu tipo de mulher provavelmente seria muito mais fácil e efetivo. Mas não...

Eu falo olhando fixamente nos olhos, o que pode parecer ameaçador às vezes.
É a única forma que sei me comunicar, até que algo me faça perder a compostura e eu seja obrigada a evadir para meus pés.
Desde a mocidade tenho tanta certeza de mim, que usar meu espelho para baixar minha guarda não é possível. Tenho dedos magros, expressiva flacidez nadegueira, cabelos rebeldes e lido muito bem tudo com isso. Não me causam insegurança – ainda que não me causem satisfação.
Aquela solicitação gratuita de elogios nunca parte daqui - ou quase nunca. Eu gosto do reconhecimento pelo que conquistei e não o camuflo com falsa modéstia.

Devo ser o avesso daquilo que lhe atrai.
Sou um leão que brinca de ser bailarina de vez em quando. Daqueles que não se abalam por nada aparentemente.
Não estou sempre penteada, nem tenho as unhas bem feitas. Mas garanto que minhas mãos te acarinham o rosto com delicadeza que você nunca conheceu.
Enaltecimento excessivo me cansa. Não sou fêmea de pavão.
Gosto do retrato sincero. Quaisquer dos seus métodos de sedução típicos não funcionarão. Desculpe castrá-lo. Não era minha intenção. Mas pelo jeito, nasci rebelde.

Sussurros pela nuca não me eriçam, pelo contrário, me causam asco. Mas a honestidade... Essa pode me derrubar.
Eu tento a todo custo disfarçar atração e anseio. Mas se você estiver diante dos meus olhos neste momento, vai perceber bem rápido apesar do meu empenho.
Divido as contas, bebo whisky, assumo minha miopia e amo batom vermelho.

Eu sei que sou o avesso de tudo o que você já viu.
Mas também sou o que está te tirando o sono agora.

Um comentário:

Anônimo disse...

Mas ficou uma boa bosta este texto!