março 27, 2015

Do despertar

Desamarrei o laço que prendia meus cabelos e permiti que o vento os embaraçasse com liberdade. Pude sentir, um a um, os músculos do cocuruto relaxarem ao se livrarem da força das mechas de cabelo tensionadas ao limite.
Deixei os fios escorregarem soltos pelo meu rosto enquanto desenhavam caracóis no ar, sem que minhas mãos censurassem aqueles que, por ventura, colavam nos meus lábios.
A cabeça virou uma dança. Havia movimento e agitação em toda a volta, para todos os lados, seguindo o vento que não tinha direção definida. Parecia comemoração pela liberdade, até então, tolhida.
Ao mesmo tempo, meu olfato apurou. Aspirou o ar vivo e dançante e percebeu, com prazer, que meus cabelos são perfumados como camomila.
Agora eu estava envolvida pelas pétalas brancas que caíam das flores que tinha presas ao couro, que desfilavam rodopios e perfumavam tudo em volta. E cada vez que tocavam meu rosto a pele ficava serena e receptiva, como se recebesse uma massagem.
Devagar, todos os pelos arrepiavam e se levantavam desenhando trilhas através dos poros, desde os pés até a nuca.
E então os ouvidos puderam ouvir os sussurros de tudo o que havia ali: o chiado dos cabelos que o vento bagunçava, o som dos pelos se erguendo, o barulho das pálpebras fechando e abrindo. O sangue circulando.
Uma festa de sensações movia meu corpo num mundo de descobertas de pequenos detalhes adormecidos. Ali vi, pela última vez,  vinte centímetros de cetim vermelho em fita, dançando no ar, em direção ao infinito.

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