maio 28, 2014

Tempestade

O tempo virou e eu mal pude perceber o processo. Num piscar o clima quente virou cheiro de umidade, frio e escuridão. De repente... correr para fechar as janelas e garantir que cada coisa permaneça no seu lugar: lá fora, o céu caindo, o vento, os relâmpagos. Cá, meu exílio.

Tempestade não se contém, não se mantém do lado de fora... invade o quarto.
A última dessas foi palco para nossa lascívia. Os relâmpagos eram nossa luz. Éramos nós, hora ocultos, ora revelados, expondo gosto, gozo e despudor.
Foi noutra noite dessas, com tempestade de correr para fechar as janelas, que suas mãos estavam percorrendo trilhas certeiras de êxtase, transformando em espasmos tudo o que eu não podia expressar.

Cada luz que ocupa meu quarto me lembra de cada minúsculo detalhe do nosso tempo. Do quanto você era meu. Eu, obviamente, ainda sou muito sua. A mesma a quem você perturbou com suas mãos e lábios. A mesma que você amou desvairadamente. Aquela que te ama. Desmedidamente.

Tudo como naquela vez... de janelas barulhentas estremecendo com o vento. Em que não se pôde perceber o frio que fazia. Noite de chuva invadindo o quarto enquanto os pelos eriçavam. Dentes, unhas, e puxões de cabelo. Com pele se tocando, se querendo. Noite em que nos consumíamos, tremíamos, suávamos.

Há já tanto tempo, e eu ainda sinto saudade da sua língua na minha orelha, da mão no final da coxa, de sentir sua pele exposta tocando a minha.
Ainda sinto, precisamente, sua respiração, aqui... pelo pescoço, perto do queixo.

Não posso saber quanto tempo esse frio vai cortar meu rosto. Nem quanto tempo vai durar toda essa chuva, que está densa. Não sei se seus dedos fazem a outro corpo neste momento o mesmo que fazia a mim, em outras tempestades. Você deixou rastros e vazios. E um monte de incertezas.
Não sei por quanto tempo você será protagonista das minhas fantasias.
Mas mas me inteiro de certeza de que vou conviver com a memória do seu suor percorrendo meu corpo tanto tempo quanto durar esta tempestade. E as próximas.