maio 14, 2012

Carta sem destinatário

É fácil escrever sobre você. Eu nunca te esqueço.
Os olhos, o jeito de falar exatamente o que eu quero ouvir. As risadas. O sorriso manso. Os elogios eternos. E sem fundamento, diga-se de passagem. Uma sedução deleitosa e infinita.
Você vai sempre fazer parte de mim e eu definitivamente nunca te esquecerei. Vou guardar eternamente tudo o que vivemos e, sobretudo, aquilo tudo que não vivemos. O que ficou nas entrelinhas. O que ficou na insegurança. Na boca dos outros. No medo adolescente, que não cresce nunca, de agir errado e te perder para sempre. Ou de sequer ter-nos alguma vez.
Engraçado como estivemos sempre exatamente no mesmo lugar, distando apenas alguns metros, sentindo o perfume um do outro, mas, ainda assim, tão invisíveis. E mesmo invisíveis nunca perdermo-nos de vista.
Como você podia estar sempre tão perto, ao alcance dos meus dedos, e eu nunca tê-lo tocado assim, com entusiasmo, como quem toca o presente mais desejado? Por que os toques foram tão superficiais? Por que nossos segundos passaram tão depressa?

Discorrer estas palavras, estes verbos e todo este melodrama é excessivamente fácil. Está tudo perdido entre fios de cabelo e carinhos nas pontas dos dedos. É só procurar e colar aqui, detalhe por detalhe.
Nossas peculiaridades foram preservadas tão cuidadosamente pelos dois que são fáceis de achar. Estão ali, ao alcance das mãos, para serem trazidas à realidade sempre que precisarmos. Só não mostramos para ninguém. Estiveram sempre lá, sempre sendo revistas. Mas estranhamente, sempre guardadas como um segredo.
Eu nunca saberei por que nos escondemos. E eu nunca te esqueço.

Todas as histórias do passado que não existiu e do futuro que não aconteceu. E inexplicavelmente, depois de todos estes anos, isto está incomodando de forma significativa agora.
Nós nunca tivemos um ao outro, e eu não sei dizer por que.
Por que sempre fui tão sua sem saber.
E por que achei que era tão meu.
Por que ficou tudo perdido entre bolas, balas, sol e álcool. E em poucos segundos de felicidade, diluídos em anos de história compartilhada.
De verdade, é mais difícil do que eu pensei.
Está sendo muito difícil perder-te finalmente, sem nunca te ter tido.


Às vezes acho que te amo. Mas nunca saberemos realmente.

3 comentários:

Tuta Medeiros. disse...

tem alguém com saudade aqui ?
AMEI o seu texto.

Juujie disse...

Tão lindo como me enxergo tão bem nas suas palavras. Adorei o texto.

evanuel disse...

Muito bom! Você é escritora de algum livro?