janeiro 06, 2012

Fome de dor

Têm aqueles dias que você abre os olhos e está pronto para experimentar paz e plenitude desmedidas. Ou sentimento algum.
Não é o dia de hoje.

Já me doei tanto, já invalidei tanto a própria vontade, que cheguei a acreditar que não possuía alma e fui não mais que um corpo vagando a espera da extenuação. Arranquei o coração do peito à faca. Na coragem e sangue frio. Já me entreguei tanto que peguei minhas próprias compaixões e as engoli.
Despi-me de mim mesma para dar significado a outras vidas. Nesses dias deixei de ser cor e luz, para ser só mais um corpo sem vida.

Mas agora os sentimentos não cabem no peito.
Estremeço-me de agonia, ansiedade e fúria. Eu quero rasgar e arrancar minhas roupas e me arremessar na água fria. Gritar mesmo sem voz, toda a minha agonia até sentir inflamar a garganta e o cansaço tomar todo o corpo.Chorar e rir tanto, sofrer tanto, sentir tanto até esvaziar e ficar estirada no chão pela exaustão. Faltam-me abraços e mordidas. Falta eu dilacerar minha face com as próprias unhas. Falta conseguir expressar esta angústia de não ser capaz de dizer quantos sentimentos existem dentro de mim.
Tenho ao mesmo tempo amor e lamúria. E uma vontade irreprimível de chorar um mar inteiro de lágrimas sem razão.
Não sinto absolutamente nada, senão esta necessidade de mostrar que sou capaz de sentir de novo. De comer meu corpo e comer qualquer outro corpo e sentir as têmporas descerem através minha garganta e suspirar o tenso ar do alívio após fartar minha vontade

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