março 23, 2011

Suor

Estou só desejo e fome de pele. Fico presa entre te invadir boca adentro ou engolir o próprio suor. E num esforço de racionalidade, guardo tudo em mim.
Me desmancho aos poucos de vontade. Agonizo e diluo nessa chuva que me despe, me atiça e em vão tenta resfriar meu corpo. - Está quente demais! A verdade é que tanto me esconder só faz inflar meus pulmões e me tornar pó, que se espalha e explora o mundo ao meu redor.
As gotas tocam minhas temporas, meu ombro, meu colo. Acariciam o meu corpo e sinto um suspiro ser lançado do meu útero e atingir o ar, muito perto das suas narinas. Me faz toda vertigem e medo.
Você quase notou.
O relógio é a fuga para esconder meus lábios já molhados. E agora vejo que se passou apenas um segundo nos seus olhos.



Crônica:

Doce vida
(Nelson Botter Jr)

O encontro estava marcado para as 15 horas, horário do recreio.
Ela de fitinha rosa nas madeixas loiras, camisa branca de botão e saia azul do uniforme escolar, lancheira do New Kids On The Block e Melissinha.
Ele com seu cabelo ruivo escorrido e penteado para o lado, óculos de aro redondo, uniforme limpinho, sardas e uma sacolinha na mão.
Quando o viu se aproximando, ficou ansiosa. Ele, por sua vez, tinha as pernas trêmulas.
Um pequeno sorriso apareceu no rosto da garota, enquanto ele mal a olhava nos olhos.
Aproximou-se, cumprimentando-a timidamente com uma das mãos levantadas.
Ela estava linda. Uma bonequinha, um verdadeiro sonho com aquelas bochechas rosadas e um sorriso encantador.
- Achei que você não ia vir.
- Por quê? Que bobo...
- Ah, sei lá.
Ela ficou tímida e ele mais ainda.
- Trouxe isso pra você – ele falou, tirando de dentro da sacolinha um lanche Mirabel.
- É de chocolate? – seus olhos brilharam.
- Não... – ele titubeou – é de morango... tem problema?
Ela pensou um pouco.
- Claro que não, eu gosto de chocolate e também gosto de morango.
Ele sentiu-se aliviado e parecia caminhar nas nuvens quando a viu pegando o pacote de biscoito para guardar na lancheira.
- Obrigada.
- Se você quiser, posso te trazer um Mirabel de chocolate amanhã...
- Jura?
- Sim, juro.
- Eu quero!
- Tá bom, eu trago.
Silêncio. Constrangimento no ar pela falta de assunto.
Ele pensou, pensou e, então, encheu-se de coragem.
- Posso te dar um beijo?
Ela corou. Ficou em silêncio. Então sorriu de leve, charmosinha.
- Por que você quer me beijar?
 Ele não sabia o que dizer. Não sabia como falar que aquele beijo era um gesto de carinho, que a achava uma menina muito legal, doce, meiga... Simplesmente não sabia como dizer isso. E não disse.
- O Alexandre falou que beijou seu rosto na semana passada, então eu também queria um beijo seu...
O semblante dela se transformou. De anjinha a diaba em segundos. Com o olhar, fuzilou o garoto, que não sabia o que fazer pra reparar a bobagem.
Ainda tentou falar algo, mas as palavras não lhe vieram.
O que veio foi um tapa. No rosto. Fraco, mas forte o suficiente para disparar seu coração de garoto inocente.
Ele a viu sair em passos largos e furiosos.
Lá se foi sua menina, seu beijo e seu Mirabel.
Ao ajeitar seus óculos, começou a descobrir o quanto as mulheres são misteriosas e absurdamente tentadoras.
E tinha certeza, sabe-se lá como, mas tinha, que amanhã ela estaria ali, novamente, esperando pelo Mirabel de chocolate.

3 comentários:

Juujie disse...

Te falar, seus textos são os meu favoritos em toda essa blogosfera.

Se não for pedir demais, o link para o meu blog deixou de ser .com e voltou ao .blogspot.com, então se quiseres mudar :3

Beijos linda!

Mari disse...

aaaah que saudade eu tava de vc! como sempre seus textos são ótimos!

bjos

Natália disse...

Ei, uma vez escrevi sobre amizade, sobre uma briga feia que desestruturou meu grupo de amigos de infância, e voce pediu pra eu avisar se as coisas melhorassem.
Olha, algumas cicatrizes ficam pra sempre, mas está tudo bem a alguns meses já, e eu espero continuar amando-os até ficar bem velhinha.
O texto está excelente by the way :)