abril 18, 2009

Mata-borrão

My Diary:

Vontade de me dar asas e me lançar ao céu. Que vontade!
E por várias vezes fiquei à apenas alguns segundos de me arriscar e sentir o vento batendo no meu rosto e secando o meu suor. O corpo fica balançando que nem joão-bobo, como um pêndulo, tomando coragem e hesitando. Sempre por um triz de me sentir livre.
Um próprio mata-borrão.
Mas como a vida é tão assustadora e cada lugar novo que se conhece é sempre um risco à saúde (física e mental) fico só nessa oscilação.
Vou à beirinha do precipício, olho para a cidade lá embaixo e para a névoa que atrapalha um pouco a minha visão. Fico imaginando como pode ser boa a sensação de voar. Tenho meu ímpeto, e volto.
Volto para o meu solo firme e caminho nas pontas dos pés. Sempre experimentando cada passo, para não correr o risco de tropeçar.
Afinal, sabe-se lá, se aquela cidade que eu vejo turvamente, pouco encoberta pela neblina, é tão bela quanto ela parece ser.
A vista de cima é sempre mais bonita do que a realidade.



Poesia da Semana

(Pablo Neruda)

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a e por vezes ela também me amou.
Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.

Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido.
Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, ela não está comigo.

A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.

Porque em noites como esta tive-a em meus braços,
a minha alma não se contenta por havê-la perdido.
Embora seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.

3 comentários:

Mah disse...

Com certeza de cima a cidade parece bem mais bela do que realmente é... em cima do penhasco olhamos a cidade de longe, estamos seguros... o solo, mesmo que nas pontas dos pés, nos dá mais segurança! Adorei o poema de Neruda saudades de ler seu diário xD bjos

tuta disse...

Lindo o texto, super emocionado. Obrigado pelo comentario, obrigado por sua preocupação comigo, seus comentários me fazem muito bem. Beijos !!

Natassja disse...

Perfeito o post! Queria escrever bem assim ^^ Beijos