julho 20, 2015

Dia do amigo

Em momentos de silêncio e solidão - que na verdade são quase todos desde o dia em que crescemos  - chega um intenso e veloz fluxo de pensamentos, sem nenhuma temática específica, e invade a mente com dúvidas, divagações, alucinações diversas, diálogos imaginários, memórias e investigações que não tem qualquer sentido ou relevância.

Eu aqui no meu casulo de desvario, fértil para distrações, alimento-os sem dificuldade, com o melhor do meu tempo e da minha imaginação, sem me dar conta de que, na verdade, tudo não passa de um descaminho. Sábia trilha que minha perspicácia desenha para que eu me perca do mundo terreno, numa tentativa desesperada de tirar o foco daquilo tenho sempre por perto - ou por dentro.
Não que me interesse fugir de mim, ou que me desnudar me assuste de alguma forma, mas talvez porque pareça mais fácil delirar até a plena exaustão mental a penetrar no mundo interno, este sim, legitimamente confuso e complexo, remexido, remoído, destruído e reconstruído tantas vezes.

E então que hoje mais uma vez fiz esforço para não descaminhar: quando quase me perdi, agarrei um fio de sanidade e respirei fundo para mergulhar no lugar que conheço como eu, e vi que meu universo - confuso, complexo, remexido, remoído, destruído e reconstruído tantas vezes - estava (quase) em paz. As divagações estavam todas lá, como sempre, me libertando das limitações humanas. Mas os espaços antes vazios, estavam repletos por afeto, vindo de todas as direções, daqueles que se arriscaram a mergulhar junto comigo. Os responsáveis pela minha tranquilidade ao olhar para as paredes silenciosas da minha casa vazia e não me sentir só. E poder apenas divagar minhas verdades e delírios.

Descobri (e redescubro, com frequência) que tenho dentro de mim pacientes construtores de graça e riso, que cuidam da minha sanidade e a quem posso reconhecer em pequenos detalhes dos meus gestos. A quem me dou desmedidamente, porque os tenho desmedidamente. A quem sou grata pelo afeto que tive, sobretudo, por não merecê-lo. E a quem devo uma medalha de honra ao mérito, por conseguir lidar com tanto descaminho e ainda rir disso.

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