outubro 15, 2011

Da desistência


Ela não vai mais se deixar acreditar nas suas falas vãs e sem embasamento, sem alicerce e sem verdade. Sem nem mesmo confiança. Ditas só para amarrar ainda com mais força a quem já estava amordaçada e algemada às suas mãos.
Ela se atirou de uma vez, abismo abaixo, e não está preocupada em sobreviver. A escolha foi dela de se impelir e se tornar livre finalmente. Ainda que não fique viva.
E você talvez nem chore sua ausência. Nem perceba sua ausência. E a culpe pelo - que você julga ser - súbito suicídio.
Ela aceitou de braços abertos a morte que você lhe entregou de bandeja. Então chore. Mas chore de culpa.
E não peça que ela busque a redenção, ou conte até dez e puxe a corda do pára-quedas. Não peça que ela seja só sua. Não espere mais nada.

Ela só voltará se puder te ter por inteiro. E pleno. E livre. E dela.
Ela sabe que jamais o terá.

E ela parará de se referir a ela mesma na terceira pessoa.



Poesia:

Não Vale A Pena
(Maria Rita)

Ficou difícil tudo aquilo, nada disso.
Sobrou meu velho vício de sonhar.
Pular de precipício em precipício
- Ossos do ofício.

Pagar pra ver o invisível e depois enxergar:

Que é uma pena mas você não vale a pena.
Não vale uma fisgada dessa dor.
Não cabe como rima de um poema, de tão pequeno.
Mas vai e vem e envenena e me condena ao rancor.

De repente, cai o nível e eu me sinto uma imbecil
Repetindo, repetindo, repetindo
Como num disco riscado
O velho texto batido dos amantes mal-amados,
Dos amores mal-vividos e o terror de ser deixada.


Cutucando, relembrando, reabrindo
A mesma velha ferida.

E é pra não ter recaída que não me deixo esquecer:
Que é uma pena, mas você não vale a pena.

4 comentários:

Anônimo disse...

Tudo que eu precisava ler. "É uma pena..."

Anna Gabriela disse...

Adorei seu post, o blog não é tão novo assim não... rsrsrrs Eu já sabia que era estranha desde criança, mas só depois dos 19 anos é que comecei a entender sobre o que tinha... Eu agora quero fazer pós aqui em Maricá, abriu as matrículas, se vc quiser fazer será aos sábados, de quinze em quinze dias, na Severino Sombra, é de LIBRAS e Língua Portuguesa na Educação Inclusiva, se vc conhecer alguém que se interesse, algum professor, pode divulgar... BJS!

Tuta Medeiros. disse...

E ela parará de se referir a ela mesma na terceira pessoa. hahahaha AMEI

Jéssyka disse...

Adorei essa poesia! Feita pro momento em que eu estou passando...
"Pular de precipício em precipício
- Ossos do ofício."
Sei muito bem o que significa!

Beijo, beijo :*