julho 03, 2010

Carta à minha professora

Amada professora,

Hoje quando acordei e me dei bom dia senti a sua voz escapando pelos meus lábios, como se estivesse aqui me falando isso. No fundo eu sei que foi. É esse seu "bom dia" diário para mim que me dá força pra ver que o dia de repente pode mesmo ser bom.
Além do bom dia eu reconheço você em várias outras atitudes minhas. É quase como seu eu me colocasse no seu corpo. Quase vejo através do seus olhos. Pelo jeito aprendi direitinho muita das suas lições.
Aqui em casa tudo corre de forma razoavelmente bem. Estamos nos reestabilizando. Só os atores da minha vida que mudaram um pouco... Na verdade mudaram muito. Aliás, por que você nunca me explicou que as pessoas sempre nos substituem? Essa era uma lição que deveria ter me dado, eu sempre acho que todos são como você. Não são. Ou são... e de repente o problema sou eu. Mas será que eu sou tão descartável assim? Tanto a ponto de você ter sido a única que me quis por perto? Eu sempre tenho que acabar mudando de espaço. Neste momento, estou quase em um não-lugar buscando o meu lugar. O cenário é o mesmo, mas com atores diferentes, parece que tudo muda né?
Eu ainda sou a mesma, a mesmíssima, exatamente aquela que você viu da última vez, só que mais magra e com o cabelo mais longo. Não sei se esse tempo todo sem mudar é de fato bom... Me responda depois, porque eu venho ponderando essa questão já tem algum tempo.
Ainda tenho aquela mania de levar as coisas sempre a sério e gravar as palavras em pedra. Isso eu acho que está errado. Mas não faz sentido para mim não achar que vêm verdades das gargantas alheias. Eu não compreendo este negócio de palavras aleatórias.
Você deixou tantas lições assim, inacabadas. Eu ainda não estou plena de conhecimento, precisava que me ensinasse mais. Tenho muitas, muitas dúvidas.
Sabe aquelas palavras que eu engasgava mas sempre acabava engolindo? É eu ainda faço isso às vezes... Eu sei que você me ensinou que os sons só podem ser ouvidos fora do nosso corpo, mas eu não sou ainda corajosa como você. Acabei muitas - muitas - vezes engolindo fel.
Mas não se decepcione comigo! A maioria das coisas que vcê me ensinou foram muito bem aprendidas! Chego a me trocar por você e essas são as horas realmente boas do meu dia, porque eu sei exatamente o que fazer e o que estou fazendo: estou sendo livre.
Ah! Eu também continuo guardando as lágrimas. Mas ainda deixo você chorar todas por mim tá? (Risos) Vou confessar que desde a última vez que nos vimos houve momentos em que escondê-las foi bem complicado. Imagine eu, fraca como sou, brigando contra tantos e tantos mega pascais - É eu ainda gosto muito de física, mas vou morrer sem ser boa disso (risos) - de água salgada? Houve momentos que quase não consegui. Por um quase, mas eu sempre acabo as escondendo.
Você nunca se incomodou com isso, mas as pessoas aqui da cidade consideram isso um problema. Sou a errada mais uma vez.
Aliás, as pessoas aqui da cidade têm aquele velho defeito: elas criticam nos outros a sí mesmas.
Sabe, existem situações em que não se consegue se corrigir pelo erro alheio, aí os repete. Só que você não sabe quantas coisas tem de se ouvir por isso. Como se as pessoas não repetissem aquilo todos os dias. O erro nos outros está certo, mas em mim é sempre um pecado. Não sei, acho que as pessoas sempre esperam de mim a perfeição. Não posso errar. Qualquer erro, lá se mudam os atores novamente... e você não imagina o quanto isso cansa. Passam-se anos e a hipocrisia não se esgota. Eu já deveria saber disso né?
Eu não sei como é que as coisas funcionaram sempre tão bem pra gente. Acho que é porque a sua composição é a verdade... E me ensinou a ser verdade em cada mílimetro de mim.
Nesses dias de Copa eu lembrei de você gritando com o jogador como se fosse nosso amigo, e rindo e comemorando. Lembrei de você também na virada do ano, por causa daquela minha blusa branca... Eu ainda embro de você várias vezes (Ainda bem!)
Ah, mestra... Como você faz falta. Mesmo te colocando toda em mim, não é a mesma coisa... Ajuda, mas ainda falta algo.
Me diz, como vão as coisas na sua casa? Apareça a qualquer hora, pode ser de surpresa mesmo. Você eu deixo.


Eu ainda estou esperando você voltar. Não demora muito não.
Saudades,
Sua melhor aluna

Um comentário:

Tuany disse...

QUANTA SAUDADE.

a saudade é unica coisa no mundo onde coexistem a beleza e a tristeza, e mesmo dizendo o quanto é ruim, sem saudade nada é para sempre.

Beijos, do meu coração