agosto 30, 2008

Anjo...

My Diary:

E a falta que você faz é indizível. E a saudade que me aperta o peito nunca passa.
E eu, que tola, pensei que fosse passar.
Mas cada vez mais me dói e nunca passa.
E me perdoe, mas não posso fazer de outra forma. Me deixa pensar em você como um corpo morto. Como carne em estado de putrefação e que agora já não resta muito mais que um pouco de pele, ossos e pêlos.
Me deixa pensar em você como em ser inanimado, que já não faz nada que não se degradar e se misturar ao solo. Contaminando-o, mas ainda o tornando fértil.
Prefiro te imaginar como alimento para os vermes. Matéria orgânica. Matéria, e só.
Me deixa pensar assim, porque se não o fizer não sei o que será de mim.
Por favor, deixa, porque não posso pensar no anjo, que tantas vezes salvou a minha vida, e que agora não está mais aqui para me resgatar quando eu preciso. No sorriso mais sincero que alguém jamais poderia ver. Na pessoa que me guardou tanto, sem sequer fazer questão de ser vista.
Não me faz lembrar que você é o abraço que eu não posso mais ter. Na amizade que já não existe.
Por favor, não me obrigue a lembrar que não posso te tocar, sequer te ver, porque sempre que o lembro, me sinto morrer.
E não quero sentir isso que estou sentindo enquanto te escrevo esta carta que você não pode ler. Não me deixa lembrar, anjo, que apesar de eu te amar ainda, você não pode sentir isso. E que também não me ama, porque você não mais existe.
Sabe, não é justo mesmo, eu ter todas essas lágrimas e você não as ter também. Não é justo eu estar chorando sozinha agora. Mas eu te perdôo por isso, já que tantas vezes você me secou as lágrimas.
Não te ofendas, mas prefiro lembrar de ti só como um corpo, porque se lembro que você foi é não é mais, tenho vontade de estar em seu lugar.



Poesia da Semana:

No elevador do filho de Deus
(Elisa Lucinda)

A gente tem que morrer tantas vezes durante a vida
Que eu já tô ficando craque em ressurreição.
Bobeou eu tô morrendo
Na minha extrema pulsão
Na minha extrema-unção
Na minha extrema menção de acordar viva todo dia
Há dores que sinceramente eu não resolvo, sinceramente sucumbo
Há nós que não dissolvo e me torno moribundo de doer daquele corte do haver sangramento e forte
que vem no mesmo malote das coisas queridas
Vem dentro dos amores
dentro das perdas de coisas antes possuídas, dentro das alegrias havidas
(...)

5 comentários:

Natassja disse...

Quase chorei junto com vocÊ!

Irving disse...

Admiro tua capacidade de transformar sensações tão desprazerosas em imagens tão sublimes. Talvez não seja o melhor momento para eu comentar aqui, mas são nesses momentos, quando estamos moribundos, pois quando algo que nos faz bem se vai, acaba levando uma parte de nós; é nesse momento que precisamos olhar de novo para a vida, e ter aqueles momentos que bons, apenas como uma recordação agradável e não como razão de viver. Te desejo uma vida de muitas glórias

J. disse...

*-* Tudodebom. Seu talento é indescrítivel em algumas palavras digitadas numa caixa de texto para comentários. Realmente, um blog dos mais inspiradores que já encontrei ;)

Mah disse...

Uau, muito profundo esse texto, acho que vc conseguiu passar tudo o que sentia, eu senti! Bjos

Igor disse...

desculpa, eu realmente não sei o que dizer porque estou sem palavras com o seu texto. lindo demais! super confessional :~