julho 19, 2008

Puritanismos

(Juro que o post da semana que vem vai estar coerente com o meu estado de espírito... Este é o último da época do Weblogger...)


My Diary:

Às vezes até admiro as pessoas dissimuladas, sabia? Imagino que tenha gente aqui, lendo este blog agora, que concorde comigo. Não que nós adoremos a falsidade, mas nós reconhecemos isto como uma arte.
Eu não sei ser outra senão eu. Sou autêntica do meu - 0,00 N.0. ao meu +1,64 N.A.
E por este exato motivo, não costumo me censurar por estar na presença de uma ou outra pessoa, não finjo ser outra para agradar ou para disfarçar algo.
E sinceramente vejo isto como um ponto positivo.
É melhor que você aceite isto. Foi assim que me leu pela primeira vez, e foi assim que continuou me lendo durante a última semana (e única semana de nossas vidas).
Deixo - e deixei - muitas coisas nas entrelinhas, mas são coisas que sinceramente, não fariam a menor diferença agora, assuma isto.
E não venha me culpar por nada ter dado certo.
A culpa foi sua. Pois se nada deu certo, foi porque tu não quiseste que desse certo de fato.
E por toda essa força na minha personalidade, é que não consigo fingir que está tudo bem.
Você pode até tentar, mas não vai convencer nem a mim nem a você.
Nunca fui tão maltratada na minha vida.
Me fizeste - quis mudar a pessoa, me permitam, às vezes me dou licença poética - sentir integrante do mais baixo escalão da sociedade. Em ser sub-humano.
E ainda queres que eu finja estar tudo bem?
Quanta hipocrisia, meu caro puritano!
Assumo que tudo o de ruim que me fizeste só machucou desta forma, porque tu tens um certo peso na minha vida, mas que aos poucos será aliviado, a custo de dieta e exercícios. Não com pouco sofrimento, mas de fato com êxito!
O pior, é que de um dia para o outro, fui de anjo à demônio da pior estirpe.
E a essa diminuição eu não aceito. Tu não tens idéia do que isso pode fazer com a auto-estima de alguém.
Te pinta de ouro, e ajoelha no chão. Não adianta. Não somos mais os mesmos, e mais nada vai funcionar.


E aos meus caros moralistas, tenho algumas palavras para vocês:
-Sadismo
-Orgia
-Pedofilia
-Mazoquismo
-Bissexualismo
-Voyerismo
-Suruba
-Necrofilia
-Incesto
-Orgasmo
-Swing
-Homosexualismo
-Masturbação
-Zoofilia
-Foda!


Bom fim de semana para todos!



Humor da Semana:

Mas o que é o glamour, então?
(Bibi da Piéve)

No início, até não me incomodava. Passava batido. Não prestava muita atenção, confesso. Aqui e ali, saía uma notinha onde alguém famoso dizia não ser "aquilo tudo" que imaginavam que ele fosse. Numa entrevista, um colega reafirmava a tese, o que é isso, amigos?, nós não passamos de pessoas comuns. Até aí, tudo bem. Ninguém passa, mesmo.
Mas a coisa foi crescendo de uma maneira estrondosa. E, a meu ver, descabida, inadequada e até desconfortante. Todos os dias, se formos um pouquinho atentos, vamos encontrar alguém, na televisão, se dizendo um sofredor. Pobres vítimas de uma dieta rigorosa, vejam vocês - só comemos frango grelhado com alface; são ossos do ofício. Pensa que é fácil manter esse corpinho de pop star?
Da dieta, passamos à malhação severa. Não é fácil, amigos leigos, ter um personal trainning no pé, todo o santo dia. Tem dia que a gente não quer, ora, não quer malhar! Está com vontade de chupar um picolé, sei lá, fazer essas coisas de gente comum. Mas não pode. O tirano não deixa, e somos obrigados a fazer seiscentos abdominais por dia! Pensam que é moleza?
Agora é a vez de falarmos sobre a nossa precária situação financeira. Todos pensam que, só porque trabalhamos na televisão, somos ricos. Mas não, essa idéia é muito errada! Acreditem se quiser, nós não temos as casas da Caras! Não moramos em castelos! Não, nós somos pessoas simples, que trabalhamos para viver, e ainda assim ganhamos muito pouco! Nós trabalhamos duro. Estão pensando que vida de artista é só glamour?
Chega. Esse papo já deu o que tinha que dar, e eu não sei quanto a vocês, mas eu não tolero mais um pio sobre esse assunto. Quando começou a moda da bandeira "nem tudo é glamour na vida dos artistas", eu não pensei que iríamos ter que aturar tanto. Francamente, esse discurso é um equívoco generalizado. É um desaforo. É mais uma piada.
Em primeiríssimo lugar, que negócio é esse de artista, agora? A palavra artista assumiu proporções escandalosamente grandes, e, estou certa, não a avisaram. Todo mundo é artista. Minto: todo mundo que aparece na televisão o é.
A começar por aí, a piada já é de rolar de rir. Não queiram que eu compartilhe da idéia distorcida de que tudo o que reluz é arte, porque não é. Os holofotes podem iluminar o que quiserem, mas não engula, estimado leitor, aliás, cuspa em cima, se for possível, dessa ignorante concepção de que tudo o que a mídia mostra é, de um modo ou de outro, manifestação artística. Ainda temos discernimento, estou certa? Ainda bem.
O segundo equívoco da fila, se me permitem assim organizar, é justamente a idéia de ser vítima por ter que trabalhar demais. Os "artistas" andam dizendo, entre beicinhos de sofrimento e flashes das câmeras, que "a nossa vida não é um mar de rosas; a gente trabalha muito." Não tenho palavras, e eu sinto muito, porque minha tarefa é justamente tê-las, mas me faltam recursos verbais para traduzir tamanha indignação acerca desse discurso. Ora, se trabalham muito, então que ótimo!
Meu Deus, atirem-me pedras virtuais se eu estiver errada, mas não posso crer que, num país onde a miséria tem dimensões assustadoras, e onde o desemprego bate recordes e mais recordes todos os meses, as pessoas vão até a televisão para reclamar que trabalham muito! E se sentem seriamente injustiçadas por isso! Mas o que é o glamour, afinal?
O glamour é o trabalho; é evidente! O glamour brasileiro não é a casa da Caras, não é poder comer torta de chocolate com nozes todos os dias, não é viver com o papo para o ar. Vamos ter noção da realidade; vamos pisar na areia imunda de Copacabana e ouvir os gritos de quem está vendendo sanduíche, cortando o pé com caco de vidro ou sendo assaltado. Isso sim, todos os dias. O que são seiscentos abdominais, então? São puro glamour, sim.
Não estou aqui querendo dizer que as pessoas devam discursar, na televisão ou nos jornais, enumerando as vantagens das próprias vidas. Ao contrário; não me interessa o que têm ou deixam de ter. Mas não consigo, por mais que tente, levar a sério uma pessoa que realmente queira convencer um país inteiro, através das câmeras, que é uma pobre vítima de uma dieta baseada em frango grelhado, legumes e ricota. Isso é o paradoxo mais descabido de todos, é o terceiro equívoco da fila dessa imensa baboseira verbal: é reclamar da fome proposital - a fome que é mãe da estética -, enquanto os filhos da verdadeira fome - a fome assassina e involuntária - estão morrendo nas calçadas. Irônico e trágico.
Quando eu era pequena, olhava os "artistas" na televisão, e pensava que eles moravam dentro daquela caixinha eletrônica. Hoje, muito tempo depois, estou sendo levada a pensar que aquilo tinha um fundo de verdade: alguns deles, justamente aos quais me referi neste texto, devem mesmo viver encaixotados em algum lugar muito distante daqui. No planeta deles, come-se ricota, faz-se abdominais, e chora-se muito. De mentirinha. Aqui, come-se o que houver, abraça-se o primeiro "trampo" que pintar, e dá-se graças a Deus. De verdadinha.

4 comentários:

Natassja disse...

"E aos meus caros moralistas, tenho algumas palavras para vocês" hehehe Que venham os moralistas então! Adorei o seu 0,00 N.O. e o 1,64 N.A. Um dia também vou escrever bem tá? To indo.

Anônimo disse...

Menina, não precisa agradecer pelos comentários, eu os faço porque gostei mesmo do seu blog ;) E muito obrigada pelos seus e por suas opiniões. Ah! Como eu queria ter continuado com o ballet. Eu ainda estou numa situação pior, porque parei há muito, e não cheguei a me formar...=( Bjos

Natassia disse...

Aaa, o comentário aqui em baixo foi meu tá, eu esqueci de colocar meu nome rsrs

MaH disse...

Como sempre o post foi sensacional! hahahhahha adorei! bjos