maio 27, 2016

Tudo permanece

Um dia parei e percebi o silêncio que havia em mim.
Eco.
E um enorme vão livre.

Senti que faltava alguma coisa.
Algo havia ido embora e já fazia muito tempo. No tempo em que uma mulher adulta começou a morar dentro do meu espelho.
É como se vida começasse a perder o sentido imediatamente depois da adolescência.
Aos poucos foi tudo ficando mais calmo, mais lógico, silencioso, monocromático, estranhamente pacífico. Sobra a sensação de que as sensações sutilizaram, e fica um ser que não sabe mais - e não se lembra - viver à flor da emoção: finalmente sem sofrimento ou desgaste e livre daquela a indomável frustração da missão falha. No lugar, quedam-se as vantagens da escolha de se resguardar até alcançar o estado de não mais amar ou ter paixão.

Eu tive certeza de que crescer era carregar o corpo - curiosamente ainda vivo - em passos comedidos e ponderados atrás das horas em que, por convenção social, devemos estar de pé.  E ao fim dessas horas (o resto de dia que é seu) se ocupa de um nada sem ânimo ou ânsia. Amadurecer, descobri, era garantir ao passado tudo o que era possível sentir. E ao presente apenas os olhos abertos.

Mas tropecei em um nó de trilha percorrida e caí de nariz bem em frente ao meu espelho de piso. Há poucos milímetros do que perdi.
Sem querer me vi.
Está tudo lá, exatamente onde deixei. Tudo o que acreditei ter esfarelado e esvoaçado com o sopro do tempo ficou escondido e desbotado no fundo do amontoado de vida que joguei por cima. E agora foi descoberto.
Um monte de alma, vida, sonhos bobos, riso de canto de boca e alucinações para antes de dormir.

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