janeiro 22, 2016

Mortais...

Livros? Ama. Se considera um leitor veterano, assíduo em todas as bienais. Sua casa tem mais livros do que roupas e isso lhe garante o posto de intelectual. Seu favorito ainda é Harry Potter e o Segredo do Príncipe. Leu em inglês, óbvio! Tinha pressa e não podia esperar pela tradução.

Come o mundo geek sem nem dar tempo de fazer a digestão. Argumenta constantemente sobre como Jared Leto jamais superará Ledger, enquanto espera ansioso pelo Esquadrão Suicida.

Todo dia avança um passo na organização de seu Rubik’s Cube (sim, em inglês mesmo) e tem no quarto referências dos mais diversos ícones blockbuster, enfeitando as paredes e prateleiras, deixando bem claro que ali vive alguém que não veio à terra à passeio: está aqui para arguições inteligentes e olhar blasé para os meros mortais desinteressantes que não pertencem ao seu universo.
É o tipo de sujeito sempre está numa discussão sobre física, biologia e religião, embora seja ateísta - porque sua sabedoria elevada está acima das sobrenaturalidades - e sua área de trabalho não tenha qualquer relação com esses assuntos.

Um sábio. Um culto. Um rebelde, de intelectualidade superior à quase tudo à sua volta (embora alimente sua inteligência só com ração mainstream - palavra que ele mesmo me ensinou). Um desesperador retrato de uma geração que sabe que é melhor do que qualquer outro mortal.
Está ali, na fila para assistir à estreia super esperada do ano, cujo custo de produção é imensurável E não há uma série do Netflix sobre a qual não tenha feito uma resenha no blog. Assinante da Galileu e da Super Interessante. É, portanto, escritor e especialista em qualquer assunto, e aquele que discorda de seu discurso, é um pobre ignorante.

Seu estilo musical favorito carrega qualidade e refinamento. É superior. O que rende comentários constantes sobre o quanto é absurdo o funk brasileiro ser tratado como cultura popular - porque cultura é outra coisa - e sabe que MPB é só um estilo de música de corno chata.
As religiões são alienantes e um verdadeiro câncer social - mas nem por curiosidade estudou o Corão ou pisou num terreiro.

A literatura brasileira é chata. Carece de emoção. Assim como o próprio idioma “brasileiro”: imperfeito, impuro, pouco sonoro. Subdesenvolvido. Terceiro mundo.
E tudo aquilo que está no lado B da cultura popular, que não carrega glamour, que se aprofunda, que cansa, que desafia as certezas... Isso, com certeza, de opinião formada, baseado em todo seu rico repertório, é só o resto.


Porque não está na blogosfera badalada. Porque não rende uma fotografia bonita. Porque ser tão alternativo e sábio não é mais que ser um consenso.

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