dezembro 31, 2015

Para Dois-Mil-et-Quinze

É, Dois-Mil-et-Quinze... Você não foi fácil. A promessa era que você viria como uma avalanche, derrubando tudo aquilo de seguro em que se poderia agarrar. Não decepcionou, nem por um segundo.
O dólar subiu. A bolsa caiu.
Fui cuspida, objetificada, maltratada e culpada. Tudo de boca calada, porque é mais seguro. Quase a Geni.
E como a Geni, me pôs sempre conveniente presente. Sempre conveniente ausente. Com falta e saudade até do que não se viveu.
Faltou água.
Faltou comida.
Faltou ânimo, muitas vezes.
Faltou ar.
Foram dores e perdas constantes, e a impotência que os sucede.
Teve insolação. Teve frio. Teve chuva. Teve medo.
E teve solidão. Muita. De ouvir o vento reverberar nas paredes do peito vazio tantas vezes, que os ouvidos se acostumaram ao som.
Teve mesmo muita solidão, Dois-Mil-et-Quinze. Solidão e sono.

Mas quem diria, que neste mesmo ano, em que acordei com a certeza de não mais ser capaz de levantar da cama, eu teria a luz do sol refletindo em meus cabelos e luzindo toda a volta?
A animação que era escassa vinha aos poucos beijar meu rosto cheia de fé, e então foi só olhar com calma...
Aí foi perceber que enquanto uma mão molhava face, e a outra a enxugava com toalha macia.

E teve luta, e teve grito e teve renascimento.
Teve trabalho até o corpo exaurir.
Deu pra amar umas quantas vezes, dos olhos brilharem e a carcaça ficar boba. Deu pra gozar a falta das armas e a vulnerabilidade. Deu para apertar os laços e atar novos nós.
Teve abraço. Teve afeto. Teve riso solto. Teve jazz.
E a solidão deixou de ser sentimento pra virar companhia. E então paz. Finalmente uma paz cheia de sons.

Você, Dois-Mil-et-Quinze, de fato sacudiu o mundo e me virou do avesso. Só, mal sabia, que o avesso é o meu lado certo - sempre foi - e agora já posso ver, de novo, meu reflexo no espelho.
Mal sabia que pra cada rasteira que me passava, havia várias mãos para me segurarem. Mal sabia que aqui, do lado avesso, tem afeto em abundância. E afeto amortece quedas.

Quando você nasceu, Dois-Mil-et-Quinze, eu não imaginava tudo o que viria pela frente. Não dava para especular o quanto tudo mudaria. O quanto o hoje de agora seria tão diferente do hoje de 365 dias atrás.
Eu jamais imaginaria que a paz inerte, dura, pesada e dolorosa do Um-do-um iria em bora à francesa, e em seu lugar viria toda essa reviravolta dramática de novela mexicana em capítulos finais.
Você tentou, Dois-Mil-et-Quinze, mas eu ainda estou aqui, de pé e com fé. Não foi fácil - exatamente como prometeu - mas eu te venci.

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