maio 22, 2013

Eu Não Faço a Menor Ideia do Que Eu Tô Fazendo Com a Minha Vida


Já li muitos posts, textos e crônicas sobre as desventuras de quem mora sozinho. Das descobertas dos aventureiros que acabaram de entrar nesta empreitada solitária de coração aberto, cheio de ganas e cheio de si, esperando fortunas e os infortúnios.
Sempre as novidades.
Mas nunca li textos vindos daqueles que já se acostumaram à essa vida de tal maneira, que esquecem até que isso já foi novidade.
Pois bem.
Depois de cinco anos e a faculdade já pelo fim, nenhuma possibilidade de casamento ou união estável - ou mesmo de um relacionamento amoroso equilibrado e saudável - com o saudosismo batendo, tanto quanto o medo... resolvi postar as realidades de quem já está nesta vida há algum tempo.


Não ter hora para nada, no começo, é legal: não tem hora para dormir, não tem hora para comer, não tem hora nem para ir para a aula. Aliás, estar presente em sala de aula já deveria te valer uma medalha. Mas virar um ser tão indisciplinado frustra. E você jura que vai se corrigir. Tá. Senta lá, Cláudia.

Roupa não faz o menor sentido. Se você mora sozinho, você passa muito tempo sozinho e acaba não se vestindo - pela liberdade, preguiça e falta de necessidade - nunca. Você dorme, come, lê, nu. Vira um hábito quase incorrigível. Um naturista. Sobretudo se vocêteve algum namoro longo desde que se mudou.
Fica difícil compreender que não pode sair nu do banho só porque tem alguém, com quem você não está transando, sentado(a) no sofá da sala.

Você sabe nome e sobrenome de todos os âncoras de todos os telejornais.

Mesa de jantar existe para enfeitar: lugar de comer é no sofá, na frente da tevê, conversando sobre amenidades com a pessoinha famosa que está ali dentro.

Você aprende a cozinhar. Não tem jeito. Você aprende e fica melhor do que a sua mãe. Usa temperos exóticos. Fica besta. Fica exigente. Fica até chato. Mas não significa que você cozinhe sempre.

Você até lembra que tinha conflitos sérios com os seus pais, mas não consegue se lembrar como eram, porque os raros momentos que está com eles são tranquilos e relativamente impessoais.

Você descobre que sua mãe fala muito. Muito mesmo. Muito, muito, muito, muito.
Muito, muito, muito, muito, muito, muito.

É impossível viver sem o internet banking.
Aliás, é impossível viver sem internet.
Internet se torna seu meio de contato com o mundo externo, o livro de receitas da sua avó, a gaveta de remédios da sua mãe, seu médico. Seu dicionário, sua enciclopédia. Seu arquiteto e seu marceneiro. Sua companhia.

Você tem uma crise séria de depressão, pelo menos uma vez.

Faxina já foi semanal. Depois quinzenal. Depois, no dia que se recebe visita. Agora é quando eu to afim e que se foda!

Não tem comida na geladeira. Mas tem álcool. E eu não sei vocês, mas eu acho ok beber cerveja no café da manhã. Cerveja deixou de ser álcool.

Relógio não marca as horas. Ele te dá uma sugestão de que daqui a pouco você deveria pensar em sair porque são mais ou menos a hora que você deveria estar chegando lá.

Você amadurece muito. Envelhece muito também.

É muito ruim estar estressada e não ter com quem brigar!
Quem sofre as consequências aqui é o meu computador. Quando isso não basta, eu brigo sozinha, em voz alta. Porque aí os vizinhos escutam. E eles podem se incomodar. E me interfonar. Aí eu vou ter uma pessoa de verdade com quem brigar!

Todo o dia é dia de beber com os amigos em casa.

Dar satisfação é esquisito e impensável. É estranho ver as pessoas explicando para alguém que vão chegar "na tal hora." Você não faz ideia de que horas pretende chegar em casa. Você nem sabe se vai para a sua casa ou para casa de outrem.

Como já disseram num post perdido aí pela internet: você descobre o preço de tudo. E tudo é caro. E 50 centavos é muito dinheiro. Você escolhe o detergente de R$1,10 porque o de R$1,30 está um roubo de tão caro! E você está sempre pobre.
Você fica pobre no mesmo dia que o seu salário entra.

A Clarice Falcão naquele filme não fazia ideia do que estava fazendo com a vida dela e isso era até engraçadinho. Bem, eu tenho 24 anos e não faço a menor ideia do que eu estou fazendo da minha vida e, quer saber? É desesperador e nem um pouco cômico. Tragicômico talvez.
Não.
Só trágico.
Falta aquele empurrãozinho de mãe, pra te dar um rumo.

Mas ok. Viver sozinho é assim: bom e  ruim. E só depois de 5 anos (e crises existenciais diversas) eu paro para refletir a respeito.
Eu jamais conseguiria morar com alguém novamente. Amo a minha casa e minhas manias e minha liberdade e o cup noodles.
Mas caramba... que saudade da minha casa!

(Agora eu vou ali colocar o lixo do banheiro para fora, porque não tá dando mais.)




Esse blog virou uma zona. Tipo a minha casa. Mas fazer o que né?

2 comentários:

Fernanda Marx disse...

Sensacional! Eu, mesmo não morando sozinha, alias, morando sozinha no momento, mas não morando sozinha na vida normal, também não sei o que estou fazendo da vida. As vezes parece que o objetivo principal se perde. Mas a vida vai mostrando os caminhos, e mesmo sem saber qual rumo seguir, a gente acaba seguindo algum rumo. #filosofei #ñseioqeutofalando #bebi? não faz sentido usar hashtag nos comentários do blog hahaha mas achei legal... desculpa se avacalhei seu blog amiga, mas seu post me fez refletir :)

tequierogranada disse...

Eu também amo nuggets, e as saladas prontas do pão de açúcar...na verdade tudo que já vem semi-pronto e que tá no prato em cinco minutos de preparo...ótimo texto amiga! AMEI!!!