novembro 07, 2011

Liberdade finalmente


Te libertei de me amar. E mais que isso, te libertei da possibilidade de perceberem quando você me amasse, caso isso fosse acontecer.
Te libertei de me querer mais do que a outra pessoa e de me deixar fazer parte da sua vida. Te libertei de ser só meu e de desejar que eu fosse só sua.
Te libertei de me apresentar aos seus amigos ou de permitir que eles me vissem.
Te libertei de me introduzir à sua família, de casar comigo. Te deixei livre de qualquer plano que pudesse vir à sua cabeça.
Você finalmente se livrou dos meus anseios, do meu riso, da minha verdade e da minha vontade de qualquer coisa.
Te libertei dos olhares repressores (?) dos outros. Se livrou da honestidade.

Vá, voe! Está livre de saber que eu existo e de ter de me descrever seus passos.
Está livre para dizer que é livre. Para inflar o peito de orgulho e ter certeza de que não há ninguém querendo estar ao seu lado agora.

Te livrei do constrangimento de estar comigo.
Agora sorria!



Crônica:

O frango ao gengibre do homem quase perfeito
(Cléo Araújo)

Eu gosto de fechar os olhos e pensar em você grelhando um filé de frango.
Sabe aquele frango, que você fazia com gengibre? Leve toque de mostarda? Delicioso, picante, nem se via que era frango? Pois é, gosto de fechar os olhos e pensar em você passando ele na chapa, dourando um lado de cada vez, fazendo aquele fumacê sensual na cozinha. É uma visão meiga, me enche de paz e me faz salivar, no melhor e menos metafórico dos sentidos.
Acho que percebi que você seria uma coisa estupidamente inesquecível num dia como esses em que se grelham peitos de frango às três da manhã. Lembra? Uma vez foi assim, refeição feliz na madrugada. Você estava sempre com um sorriso no rosto, mesmo com sono. Estava sempre disposto a preparar uma comidinha para alguém mesmo que a matéria prima estivesse congelada. Naquela época, o alguém era eu.
Você me fez ser dessas que gostam de homens que preparam coisas. Que amassam frutas para fazer caipirinhas, parafusam buchas para colocar o pendurador de toalha, instalam fios de extensão para o DVD e assam pães de canela, tudo com o mesmo appeal.
Hoje fechei os olhos e pensei em você cozinhando com aquela camiseta que eu achava curta e que você amava. Você, de camiseta curta fazendo um franguinho, e eu, disfarçando a vontade de assumir o controle do fogão e sumir com aquele trapo velho que você vestia. Fico feliz de nunca ter feito isso. Imagine, não lembrar disso, que dó?
Teve aquele tempo em que a gente ainda não se conhecia. Tempo besta, o mundo era só um lugar abandonado e sem frangos. Ninguém nunca tinha grelhado nada no meio da madrugada para mim. Ainda não havia essas memórias, eu só me lembrava de coisas pouco importantes, como miojo e sucrilhos.
Mas um dia, então, você resolveu que adorava o cheiro de baunilha da minha casa e os meus guardanapos desenhados. E você achava que aquele carinho que eu fazia na sua testa, perto das têmporas, era a sobremesa perfeita. Isso, somado à visão de você preparando a caipirinha, grelhando um frango e me ajudando com as buchas e parafusos de casa, foram as coisas que me fizeram crer que talvez nada mais significativo viesse, um dia, a perfumar de gengibre as minhas memórias. Você sabe... Nada como memórias que cheiram a gengibre...
Agora, por exemplo, são onze da noite. Você deve estar preparando alguma coisinha para alguém.
Penso na sua risada doce e vem de novo aquela certeza de que talvez você fosse o homem quase perfeito.
Não fosse aquela camiseta curta e horrorosa, talvez você fosse.
No melhor e menos metafórico dos sentidos.

3 comentários:

Paty =] disse...

aah brigada por passar la
achei lindo aki
texto de inicio forte...
complicado \o

beijo

Mari disse...

olá xD chegar e partir é sempre uma dificil escolha não importa pra onde nem com quem ahhaha

adorei o texto.. liberdade assusta mas é realmente necessária!!

bjos

neyara disse...

Nossa, que texto tenso, se despedir é sempre tenso e incomodo... enfim... gostei mesmo assim :)
Beijo